sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Oscar 2012: sai a lista dos indicados e os melhores nem sempre tem vez

Todo ano é a mesma coisa. Falem bem, falem mal, mas todos falam. O momento máximo do cinema mundial ou como queiram os detratores do cobiçado troféu. O Oscar é o ápice da autopromoção da maior indústria cinematográfica do mundo e, de quebra, agenda as pautas da maioria dos editoriais de cultura até o próximo dia 26 de fevereiro. Na data ocorre a distribuição das famigeradas estatuetas douradas, símbolo da premiação que virou sinônimo de glamour, bons rendimentos, prestígio e constrangimentos. Não necessariamente nesta ordem.


Na terça-feira foi divulgada a lista com os finalistas da cerimônia de 2012. A previsibilidade deu o tom como de costume, mas causando uma peculiar irritação. Resultado direto de um ano em que, segundo o site especializado hollywood.com, a arrecadação de ingressos nos EUA foi a menor desde 1995. Nada mais compreensível que a maior aposta da academia — visivelmente influenciada pelo lobby dos estúdios — atenda por um filme em 3D: A Invenção de Hugo Gabret, dirigido por uma das maiores lendas vivas do cinema, Martin Scorsese.

Depois dele, seguindo a mesma linha de raciocínio, vem uma produção que homenageia o cinema mudo. Curiosamente, um filme francês: O Artista.  E, não por acaso, o pôster promocional da festa deste ano traz imagens de clássicos como ...E O Vento Levou, Casablanca, A Noviça Rebelde, entre outros. Ou seja, se para bom “entendedor um risco quer dizer...”, para a indústria o que importa é a garantia de sua manutenção. Dessa forma, nada mais compreensível do que apelar para uma legítima obra de arte concebida por quem costuma dominá-la. Neste caso, os franceses. Além disso, a Academia recorreu a um dos maiores cineastas norte-americanos, cujo nome corresponde a uma espécie de grife. Em 2011, Scorsese resolveu se aventurar, pela primeira vez, num gênero explicitamente comercial e ainda contando com a colaboração do rei das bilheterias James Cameron.

Só o mais romântico dos cinéfilos acredita que o melhor sagra-se vencedor no final. Pelo menos, em algumas categorias, as coisas não costumam ser bem assim. O prêmio de melhor filme e, por vezes, ator e atriz costumam ser uma prova disso.

Na dinâmica de Hollywood não se espera justiça, mas a preocupação que se levanta é outra: quem ganhará o prêmio, e não quem o merece.  Por um acaso, alguém lembra de uma jovem atriz loura, de nome complicado, que em 1999 conseguiu levar a melhor em detrimento das outras quatro indicadas? Por sinal, entre as vencidas figuravam a atual “Dama de Ferro” Meryl Streep e a eterna primeira-dama do cinema e do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro.

Independentemente dos nomes que constarão nos envelopes lacrados, e que serão abertos num movimento sincronizado de lábios ao som de “and the Oscar goes to...”, a lista dos indicados de 2012 já causa bastante controvérsia. Conheça dois deles:

Tudo Pelo Poder, de George Clooney


Tudo bem que o cidadão norte-americano médio está pouco se lixando para a política. Mas, até ele conseguiu entender a mensagem que a produção dirigida pelo, enfim, ex-galã da série Plantão Médico quis passar. Uma certa indiferença por parte da crítica em relação ao filme tem motivo: muitos têm dificuldade em criticar as produções que tratam de questionar a política. Fato é que Clooney cresceu como diretor e ator. Ele tem nas mãos um domínio invejável de grande didatismo e está em pleno exercício da técnica como condutor de uma narrativa que envolve, empolga, e surpreende com um roteiro repleto de diálogos funcionais e inteligíveis.

Em posse de um elenco inspiradíssimo, sem falar na fotografia repleta de simbolismos, Tudo Pelo Poder foi solenemente ignorado pela Academia. A explicação mais plausível talvez se justifique na divisão dos votos para as indicações. A película Os Descendentes, na qual Clooney interpreta um quase viúvo pai de duas garotas, acabou ganhando maior notoriedade e também papou o Globo de Ouro de Melhor Filme e Ator em Drama. Ela foi produzida praticamente no mesmo período e lançada um pouco depois de seu filme político. Com um tema menos arenoso, em Os Descendentes a porção ator dele usa e abusa do charme que a genética lhe deu, mas também aproveita os momentos dramáticos para dizer a que veio e, num simples olhar, arrebata a plateia transmitindo um turbilhão de emoções. São os reflexos de conflitos quase surreais: sua amada esposa está em coma irreversível, nesse mesmo tempo ele se aproxima da filha problemática  e através dela descobre que sua mulher o traia com um corretor de imóveis  envolvido com os negócios de sua família e, para completar, ele tem uma tremenda responsabilidade em suas mãos. Uma herança milionária envolvendo terras  no Hawai, ais quais  precisam de seu aval para que sejam comercializadas, porém, há uma série de interesses em jogo.


O personagem de Clooney em Os Descendentes é mais humano. Taí um outro motivo para justificar a saraivada de nominações do filme à próxima edição do prêmio máximo da Academia. Talvez o papel tenha sido o tipo certo para ganhar mais vida com a interpretação do ator que, dentre outros adjetivos, é conhecido por seu espírito engajado e humilde e por ser um dos profissionais mais queridos entre seus pares de Hollywood.   
                                                                                                                    
A produção que deve lhe render o primeiro Oscar como ator principal é certamente um filme pelo qual será lembrado por muito tempo. Porém, é Tudo Pelo Poder que, incontestavelmente, tem a sua marca. Assim como ocorreu em Boa Noite E Boa Sorte (2005), Mister Clooney acerta ao conduzir a narrativa com uma impressionante segurança, e ainda brinda a sensibilidade do expectador com um final aberto, atípico em dramas hollywoodianos. Sejam eles políticos ou não.

Por mais deselegante que soe, só mesmo uma baita dor de barriga pode impedir que George Clooney receba a estatueta dourada como melhor ator na noite de 26 de fevereiro. Se confirmada a previsão, é válido lembrar que este será um dos raros momentos de justiça em que a indústria cinematográfica se renderá. Não se trata apenas de quem vai ganhar, mas quem merece de fato.

Indicações de Tudo Pelo Poder ao Oscar 2012:
Melhor roteiro adaptado

Ausência sentida nas categorias de:
Melhor Filme
Melhor Diretor
Melhor Ator (Ryan Gosling )
Melhor Ator Coadjuvante (George Clooney , Paul Giamatti ou Philipe Seymour Hoffman, todos sensacionais! )
Melhor Fotografia

O segundo injustiçado da vez:
J.Edgar, de Clint Eastwood


Clint Eastwood, assim como Scorsese, também pode ser considerado uma instituição do cinema norte-americano. O Oscar precisa mais deles do que eles da famigerada estatueta. No entanto, os marqueteiros dos estúdios preferiram apostar na obra do segundo. Apesar de a produção do lobo solitário Eastwood ter mais a cara da Academia de Hollywood. Trata-se de um filme de época com uma narrativa baseada em fatos reais, cujo protagonista, o chefão do FBI por quase cinco décadas, J. Edgar Hoover, figura das mais lendárias e respeitadas da história política estadunidense. A Warner deixou passar despercebido este fato e resolveu preteri-lo promovendo outro filme do mesmo estúdio ao maior número de estatuetas possível. No caso, a última parte do final de Harry Potter.  O resultado foi um tiro no próprio pé. J. Edgar sequer teve o seu protagonista Leo Di Caprio, em performance impecável, indicado como interprete masculino contrariando todas as expectativas.

Harry Potter E As Relíquias da Morte – Parte 2 chegou ao total de três nominações: melhor efeito visual, maquiagem e direção de arte. As duas últimas poderiam ter ido para o filme de Clint com toda justiça. Para completar a irônia... até a data da premiação, o último filme do bruxo de J.K. Rowling, mesmo que ganhe alguma coisa, já terá aproximadamente nove meses de lançamento no mercado. O que pode significar quase nada. Ao contrário do filme com Di Caprio, que poderia ganhar um maior destaque com lançamento em DVD e Blu Ray e, por tabela, conferindo algum retorno comercial  ao estúdio.  Cabeças devem rolar no marketing da Warner.

Indicações de J.Edgar ao Oscar 2012:
Nenhuma.

Ausência sentida nas categorias de:
Melhor Diretor (Clint Eastwood)
Melhor Ator (Leonardo Di Caprio)
Melhor Direção de Arte
Melhor Figurino
Melhor Maquiagem
Melhor Fotografia




Por Walter Ferrera.

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