A realidade das vídeolocadoras no país é dramática. Só nos últimos cinco anos esse mercado apresentou uma queda superior a 45%, de acordo com a UBV – União Brasileira do Video, instituição criada em 1983 com o objetivo de representar as companhias de exibição assim como as próprias videolocadoras. Esta crise foi estimulada, e muito, pela pirataria. Com isso, aproximadamente 4.000 mil lojas tiveram que encerrar as suas atividades só nos últimos 3 anos.
Surgidas no Brasil a partir da década de 1980, com o advento do videocassete - artigo de velharia para as novas gerações - as vídeolocadoras firmaram-se naquele período como uma nova e próspera atividade no ramo de prestação de serviços. As pessoas que, por um motivo ou outro não podiam ir ao cinema, possuíam a cômoda alternativa de alugar um filme numa loja especializada dentro do bairro. As lojas funcionavam basicamente para atender aqueles que procuravam os grandes filmes do cinema, parte deles inéditos na tela grande. Era também ponto de encontro para aqueles cinéfilos que gostavam de trocar figurinhas com o dono da loja, cidadão que havia montado esse tipo de negócio tendo como umas das principais motivações a paixão pela sétima arte.
Hoje em dia, as videolocadoras que conseguem às duras penas se manter no mercado o fazem investindo na diversificação. E, o que se nota, principalmente nas periferias e região metropolitana das grandes cidades, são lojas que lutam contra a crise apostando num novo segmento: o dos estabelecimentos com serviço de lan house e mais conveniências. Esta nova realidade está sendo vivenciada por Tiarles Silva, empresário, 29 anos. Ele mantém uma loja com essas características em Canoas. Além de possuir num mesmo espaço o serviço de internet de alta velocidade e conveniências, o empresário aposta também num atendimento personalizado propiciando a seus clientes um ambiente familiar, fator que contribui fortemente para a fidelização da clientela. “Desde que não se descaracterize o negócio principal, vídeolocadora, sou favorável…”, declara Paulo Augusto de Moraes Travasso, 51 anos, gerente Comercial da Distribuidora Imagem Filmes. Moraes vê a tendência atual de seguimentação no ramo de home vídeo no Brasil como um novo parâmetro ditado pelo mercado, além de uma alternativa de combate a crise. “Este modelo de negócio é uma exigência do consumidor e o comércio vem se adaptando para melhor servir”, complementa.
Atuando há 25 anos na capital gaúcha, com um vasto acervo distribuído em cinco lojas, a Espaço Vídeo atravessa o segundo período de crise no mercado. O primeiro deu-se pela transição do VHS para o DVD. Dos seus primórdios até aqui, a principal referência da rede tem sido o atendimento qualificado e a vasta disponibilidade de títulos. Ainda que a pirataria apresente algum risco, de acordo com Daiana Nascimento, 37 anos, gerente comercial da Espaço, o sucesso credita-se ao nível cultural de seu cliente, que mesmo diante das facilidade de aquisição de filmes continua fiel a seus princípios.
Uma outra realidade que começa a se configurar e já pode ser considerada um fator preocupante são os downloads de filmes. Ironicamente, um serviço que está sendo utilizado pelas pequenas vídeolocadoras como forma de driblar a crise volta-se contra elas à medida que cresce a oferta de banda larga pelas empresas de telefonia.
“O download de filmes é o novo comportamento do consumidor, e é ele quem dita, através dos seus hábitos de consumo, quais serão as tendências e as novas formas de entretenimento”, afirma Paulo Travasso, da Imagem, fazendo alusão a empresas como a Netflix, líder no ramo de filmes adquiridos pela internet nos EUA e Canadá.
Ainda é cedo para se afirmar algo em relação a que rumo o mercado de home vídeo deve tomar daqui por diante. Nova crise? Novo segmento? Fato, é que esse mercado vive num constante imbróglio, tal qual a arte que ele representa há mais de 30 anos.
Por Walter Ferrera
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